terça-feira, 23 de julho de 2013

CIDADÃOS DE TORRES, TRANQUEM SUAS PORTAS!!

O Município de Torres, bem como toda a região à sua volta, acaba de ser agraciado com mais uma grande benevolência estatal: em Torres, agora, lugar de preso é em casa!!

Inicialmente é importante explicar, para quem não é da área do Direito, como se dá o cumprimento das penas no sistema brasileiro. Há, em síntese, 3 regimes de cumprimento de pena: fechado, semiaberto e aberto. A fixação do regime inicial de cumprimento da pena é feita pelo Juiz que profere a sentença condenatória, levando em consideração diversos fatores, dentre os quais a gravidade do delito, eventual existência de violência ou grave ameaça, bem como circunstâncias pessoais do réu. A partir do regime inicial, o réu vai progredindo gradativamente para o regime mais brando, até sua soltura total.

Nos últimos dias, por meio de acordo, convênio, decisão de Governo, sabe-se lá por qual razão, os presos que cumpriam pena no Albergue Masculino de Torres (regime semiaberto, portanto) estão sendo encaminhados para cumprir pena em casa. Digo que não se sabe a razão porque, estranhamente, o Ministério Público, fiscal da lei e do cumprimento das penas, não foi consultado ou sequer informado de que tal fato passaria a ocorrer.

Para quem não entendeu, é isso mesmo: apenados do regime semi-aberto, que antes ao menos tinham que comprovar emprego fixo para poderem sair às ruas durante o dia, agora, além de não precisarem comprovar vínculo de emprego, estão sendo “recolhidos” a suas residências para ali ficarem dia e noite, utilizando tornozeleiras eletrônicas que vão “fiscalizar” sua movimentação.

Os defensores das tornozeleiras eletrônicas apregoam que com elas se tem um maior controle da movimentação do apenado, que ela dá ao mesmo um senso maior de responsabilidade, blá blá blá.

Então vamos imaginar como vai ser daqui pra frente: o cidadão que comete “SÓ” um homicídio e pega uma pena mínima – 6 anos -, se condenado (depois dos milhares de recursos a que tem direito), vai receber uma pulseirinha com uma luzinha vermelha e a seguinte advertência do Juiz: “vai pra casa cumprir sua pena, meu filho, e não saia de lá, viu? Porque se você sair e roubar ou matar alguém eu vou te condenar a ... voltar pra casa pra cumprir outra pena”.

Eu prefiro não confiar no senso de responsabilidade de um estuprador, de um traficante, de um homicida.

Ora, em um Estado que é carente nos mais diversos serviços, especialmente segurança pública, não é preciso ter muitas luzes para concluir que o sistema das tornozeleiras não vai funcionar, vai gerar mais impunidade ainda e mais, mesmo se funcionar já é, por si só, gerador de impunidade.

Se o Presídio de Torres vier a ser oficialmente fechado, com todo mundo cumprindo pena em casa, sugiro ao Estado que, pelo menos, faça uma doação das grades do Presídio aos cidadãos de bem, para que coloquem em suas residências, porque agora estes é que, de fato, vão ter que ficar aprisionados em casa.

Roberto José Taborda Masiero,
Promotor de Justiça de Torres.